Da estrada para a tela: de carona com o caminhoneiro na TV brasileira

Publicado em 13 de agosto de 2024 - 8 minutos

Já existe até vídeo nas mídias sociais cobrando a participação de um caminhoneiro no Big Brother Brasil. Se a frequência dos motoristas de caminhão no BBB, porém, anda escassa, não se pode dizer o mesmo no restante da programação. Em séries e novelas, os protagonistas das estradas conquistaram de vez uma vaga especial no coração da audiência. Em resumo, caminhoneiro dá Ibope. E faz tanto sucesso que alguns dos atores escalados para dar vida aos personagens estão entre os mais reconhecidos do Brasil.

Uma das séries mais marcantes realizadas até hoje na TV brasileira foi Carga Pesada. Sua primeira versão foi exibida entre 1979 e 1981, estrelada por Antonio Fagundes e Stênio Garcia, no papel de Pedro e Bino. De acordo com os relatos do portal Memória Globo, os atores se dedicaram a viver “intensamente o cotidiano dos caminhoneiros durante as gravações”, frequentando os mesmos locais que eles e dirigindo de verdade caminhões(1).

Na época, os caminhoneiros da vida real se entusiasmaram tanto com a série que enviavam cartas contando suas histórias para inspirar novos capítulos. Carga Pesada ainda ganhou uma reedição com os mesmos atores, com mais de 60 episódios entre 2003 e 2007.

Caminhoneiro e suspense até o fim da novela

O ator Lima Duarte, que esteve no elenco da primeira novela brasileira (“Sua vida me pertence”, exibida no início dos anos 1950, na TV Tupi) também emprestou seu talento para interpretar um caminhoneiro. Na novela “A próxima vítima”, de 1995, ele viveu o personagem Zé Bolacha, um homem que teve a estrada como escola, sábio e apaixonado pelo mundo dos livros.

A história, que tinha como cenário principal os bairros da Mooca e do Bixiga, em São Paulo, foi construída no melhor estilo do gênero policial, mantendo o suspense até o último capítulo. Para evitar que um possível vazamento de informações revelasse antecipadamente o final da novela, a cena com o desfecho da trama foi gravada apenas uma hora e meia antes de ir ao ar(2).

Tem para as caminhoneiras também

A relação da TV brasileira com a estrada, porém, não é feita apenas de caminhoneiros. As caminhoneiras também foram lembradas. Na novela “A Favorita”, de 2008, a atriz Claudia Ohana interpretou Cida. A personagem se viu obrigada a sair de casa, já que parte da família não aceitou a escolha da sua profissão. O preparo da atriz para a novela envolveu conversas com profissionais da estrada e até mesmo aulas para aprender a dirigir caminhão.(3)

Confira outros personagens que colocaram o pé na estrada a bordo de um veículo pesado:

Rosa (Carga Pesada)

Confira outros personagens que colocaram o pé na estrada a bordo de um veículo pesado:

Apolo (Haja coração)

Em uma entrevista, o ator Malvino Salvador chegou a dizer sobre o caminhoneiro que interpretou na novela Haja Coração, de 2016: “Se ele fosse real, eu seria amigo do Apolo”.(4) Na história, o personagem realiza o sonho de se tornar piloto de carros de corrida.

Caminhoneiro e a cultura brasileira

Em resumo, a presença do caminhoneiro como personagem das novelas é uma das maiores provas de que os motoristas já se tornaram parte não apenas da cultura das estradas, mas da cultura do Brasil. Sua vida retratada nas telas contribui para fortalecer a conexão entre o público e os motoristas, apresentando as dificuldades do dia a dia, a resiliência e a capacidade de superação desses profissionais.

A presença na TV de nomes como Pedro, Bino, Cida, Rosa e tantos outros reforça a rotina de mais de 2 milhões de caminhoneiros e a importância do seu trabalho para o desenvolvimento social e econômico do país. Histórias de novelas que às vezes podem até se passar por ficção, mas com certeza carregam muito da realidade vivenciada dentro da boleia.

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